MORRE O JORNALISTA
JULIANO MORGADO
O amigo Juliano Morgado (foto a esquerda), jornalista, policial,
pescador, faleceu na última terça-feira, dia 13 de maio. Com sérias complicações renais, provocadas
pela diabetes, Morgado foi internado e depois de alguns dias não resistiu. Os corações de seus filhos,
netos e de sua esposa, a bondosa e simpática D. Maria não estão desolados,
vazios... Eles aprenderam o respeito, o amor, a honestidade e a dignidade desse grande Homem. Estarão sempre prontos para multiplicar
seus ensinamentos, tenho essa certeza, principalmente sobre a filosofia espírita que ele acreditava
e escrevia sempre as sextas-feiras nesse blog e colocá-los em crescente
processo de construção a serviço do povo mais humilde. Essa foi a sua maior
missão na terra, porque seu coração nasceu grande, procurando ajudar os mais
necessitados e pregando a caridade. Apaixonado pelo jornalismo, seu pseudônimo,
Garcelan, tornou-se conhecido ao escrever suas crônicas no Jornal Diário do
Grande ABC, sobre turismo e pescarias que realizou por esse mundo afora. Na semana passada, seu coração parou de bater, deixando em nossos
corações, amigos que aprendemos a admirá-lo e respeitá-lo, uma enorme lacuna.
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Da esquerda para a direita: Dona Maria - J.Morgado e filha |
Juliano e D. Maria estiveram em
minha casa faz uns dois anos, pouco mais, talvez. Insistiu para que eu o
visitasse em Mongaguá. Prometi que faria isso e não cumpri. Problemas outros de
saúde, minha e envolvendo familiares acabaram me impedindo de gozar mais
algumas horas ao lado desse amigo tão estimado.
Todos os anos, assim que amanhecia
o dia 17 de maio o telefone tocava em minha casa e do outro lado a voz querida
desse amigo cumprimentando-me pelo aniversário. E não ficava por aí, enviava
e-mails maravilhosos parabenizando-me pela data. Este ano não recebi seus
e-mails e nenhum telefonema. Percebi que alguma coisa séria havia acontecido e
telefonei para sua casa. D. Maria atendeu. Com a voz embargada pelo choro que
custava a conter, transmitiu-me a triste notícia da partida de seu companheiro
de mais de 50 anos. Explicou-me que tentou falar comigo por telefone mas não me
localizou. Conseguiu falar com o amigo Waldir Paludeto que, minutos depois,
também me passava essa triste informação. Fiquei mais triste quando soube, ainda
pela D. Maria que, a grande paixão de Juliano era que eu continuasse esse blog.
Nesse espaço ele fez muitos amigos e amigas e adorava escrever suas crônicas
que eu editava e publicava com carinho. Uma semana antes, sem saber que J.
Morgado estava com sérios problemas de saúde, eu havia resolvido reabrir esse
blog, publicando o texto abaixo, no Dia das Mães. Enviei e-mails a ele que,
claro, não os respondeu. Desencarnou, expressão que ele certamente aprovaria,
sem saber que o blog estava a espera de seus textos.
Comparei, certa feita, nossa vida
a um intrincado labirinto, em que caminhamos por entre o emaranhado de inúmeras
passagens, à procura de uma saída. Atrás de nós, segue a morte, nos procurando
para nos levar. Viramos para um lado, imbricamos por outro, fazemos
zigue-zagues para cá, para lá, até que, em determinado momento, que não temos a
mínima condição de saber quando será, cruzamos com nosso implacável carrasco. E
então... Adeus aos sonhos e ilusões! O que foi feito, muito que bem. O que não,
jamais será realizado por nós. É preciso ter sempre em mente (e, por mais óbvio
que seja, relutamos em admitir) o tempo é o nosso mais precioso capital, que
não podemos desperdiçar. Uma esteira rolante, diante da qual estamos, num
determinado ponto da sua passagem. A parte que já passou por nós de forma
alguma vai voltar. O que está à frente, o futuro, a cada piscar de olhos ou
bater de asas de um beija-flor se transforma em passado. E o que passa
velozmente diante de nós, com tamanha rapidez que sequer o percebemos, é o
presente, fugaz, invisível e volátil. E isto enquanto pudermos permanecer
diante da esteira porque, num determinado prazo, que não temos a mínima
possibilidade de conhecer qual é, teremos de sair definitivamente dali.
*Abaixo, o companheiro jornalista,
Édison Motta, escreve sua crônica falando um pouco mais desse amigo tão
querido, que está em um plano bem melhor que o nosso, certamente.
FESTA NO CÉU
*Édison Motta
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Édison Motta e Juliano Morgado |
Os céus, ou aquilo que nós, frágeis passageiros
humanos costumamos denominar de infinito cósmico, certamente estão em festa.
Porque lá adentrou, na semana passada, um ser iluminado, dono de uma alma
privilegiada.
A passagem do grande amigo e
mestre Juliano Morgado (é assim que conhecemos o querido Garcelan) para a
eternidade provoca, naqueles que o admiravam – como é o meu caso – um duplo
sentimento. A satisfação da paz, muita paz que Morgado deve estar sentindo, e
que serve de profícuo exemplo para nós que aqui ficamos. Mas recai-nos também a
tristeza de não poder mais compartilhar de seu convívio, ao menos no trecho de
estrada que ainda haveremos de percorrer.
Conheci o Morgado na redação do
Diário do Grande ABC. Eram os anos 70, anos de chumbo. E o Morgado tinha,
inclusive, dupla jornada. Dividia seu tempo entre os textos que preparava para
serem editados na seção de turismo, no ainda incipiente jornal, e se dedicava
ao trabalho na Policia Militar.
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Maury Dotto - J. Morgado e Édison Motta |
Com o passar do tempo fomos nos
aproximando. Impossível não admirar o esforço daquele policial e jornalista que
(soube depois) atravessava madrugadas teclando na máquina de escrever para
poder entregar seus textos em tempo no Diário.
A amizade fluiu e se consolidou
depois, quando decidimos empreender uma viagem pela Amazônia. Morgado, com seus
conhecimentos sobre estradas e sobre os rincões desse país foi fundamental na
preparação e em todos os detalhes que cercaram aquela aventura.
Uma epopeia que se estendeu por trinta dias, em estradas de terra e
asfalto, praticamente cruzando o Pais de Norte a Sul. Saídos da Rua Catequese,
sede do jornal, atravessamos os Estados de São Paulo, Mato Grosso (ainda não
existia o Mato Grosso do Sul), Rondônia e Amazonas. Praticamente inauguramos um
trecho de mais de 700 km entre Rondônia e Manaus. De lá, descemos de navio até
Belém e depois, descemos a Belem-Brasilia. Além de mim, também eram
companheiros de Morgado naquela aventura o diretor do Diário, Maury Dotto e o
amigo Zileval Bruscagin, também já falecido.
É no dia a dia, na divisão de
simples tarefas cotidianas que se conhece melhor as pessoas. Morgado, sempre
com seu refinado senso de humor e apurada observação, ia nos passando os
conhecimentos adquiridos em tantas outras viagens que fez – sozinho, com sua
mulher, Da. Maria ou com outros amigos – pelo País.
Tive o prazer e a honra de
reencontrá-lo, bem depois, já aposentado em Mongaguá. Visitei-o algumas vezes.
Agora ele se dedicava à pintura de belíssimos quadros, dos quais ganhei um que
ocupa lugar de destaque no escritório de minha casa.
A imagem que vou guardar de meu
prezado amigo tem as cores de seus quadros, acompanhadas das doces recordações
de intensos momentos vividos. Na redação do Diário, na viagem e em nossos
encontros posteriores.
Se alguém neste mundo pode servir
de exemplo de retidão, caráter, generosidade e amizade, este alguém é Juliano
Morgado. Mestre, amigo. Um exemplar farol a iluminar o caminho dos
privilegiados que puderam compartilhar de sua companhia, amizade e aprender com
ele.
Siga em paz, amigo Morgado. Muita
paz...