segunda-feira, 29 de novembro de 2010

As transmissões esportivas de rádio invariavelmente reservam emoções diferenciadas para quem ouve e, especialmente, para os que estão diretamente nela inseridos. Nos quase 30 anos que fizemos parte da equipe de esportes da Rádio Diário do Grande ABC, tivemos aventuras gratificantes (outras nem tanto) pelos estádios deste Brasil que, parece, será sede da Copa do Mundo em 2014.
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Corria o ano de 1992 e o Campeonato Brasileiro estava chegando ao final com Botafogo, Flamengo, Atlético/MG e Internacional disputando as semifinais. A equipe de esportes da Rádio Diário iria acompanhar, in loco, ao menos um jogo por rodada em qualquer lugar do Brasil. Uma quarta-feira, eu (comentarista) e Rolando Marques (narrador), embarcamos, em avião, para Belo Horizonte, onde à noite o Galo enfrentaria o Mengo, no Mineirão. Nossa desdita começou no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde o vôo para Belo Horizonte, marcado para as 12h saiu às 17h. Nosso bilhete marcava como destino o aeroporto da Pampulha, ao lado do Estádio Magalhães Pinto, o Mineirão. No entanto, por problemas técnicos, a aeronave aterrissou no aeroporto dos Confins, na região Metropolitana de Belo Horizonte e a quilômetros de distância da Pampulha. Eram, então, 18h30, pois teve uma escala, não programada, no Galeão, no Rio de Janeiro. Nossa adrenalina já estava a mil pelo receio de começar a transmissão com atraso, falha imperdoável em se tratando de rádio.

Chegando a BH, um amigo nosso aqui de São Bernardo, José Chéu da Silva, então árbitro de futebol da CBF - Edward de Souza o conhece bem - nos aguardava no aeroporto, (previamente alertado que o desembarque seria no Confins). O Chéu residia em Belo Horizonte e estava escalado pela CBF como quarto árbitro do jogo. Gentil e prestativo, ele nos levou ao Mineirinho, ginásio de esportes de BH, anexo ao Mineirão, na Pampulha, onde arranjou acomodações para o pernoite. Outro desastre, embora o preço da pousada fosse simbólico (tipo R$ 6 por pessoa) as instalações eram precárias. Debaixo das arquibancadas do ginásio os espaços foram transformados em hospedagem para atletas, com camas em concreto, colchões que mais pareciam capachos e roupas de cama que certamente seriam recusadas por moradores de rua.

Não havia saída para recusa por dois motivos: o anfitrião era nosso amigo de longa data e não seria educado declinar da oferta e não havia mais tempo a perder porque em menos de meia hora teríamos, o Rolando e eu, que entrar no ar. Catamos nossa parafernália de rádio e rumamos para o Mineirão (foto a esquerda), que formigava de gente. Por ser a fase semifinal do Brasileirão, centenas de emissoras de rádio, TV, jornais e revistas do Brasil e, quem sabe, do mundo, estavam no estádio e, claro, não havia cabines para acomodar todos. Como era esperado, a Rádio Diário e todas as outras que não fossem de Belo Horizonte e São Paulo, foram jogadas para as arquibancadas cobertas, no reservado, que estava mais para galinheiro. Propositadamente, as rádios do Rio de Janeiro também foram pra lá, já que os mineiros estavam bronqueados com a imprensa do Rio e enfiaram as emissoras cariocas no pardieiro.

Alguns torcedores, reconhecendo uma equipe carioca, não deixaram por menos e fustigavam os profissionais da rádio com palavrões, xingamentos, bolas de papel, copos com urina e tudo que podiam arremessar. Como eu e o Rolando estávamos ao lado da Tupy carioca, sobrou também pra gente, pois a torcida sabia que quem estivesse no espaço não era mineiro. Então, salve-se quem puder. Antes mesmo do jogo começar, o comentarista Luiz Mendes (Rádio Tupy do Rio) recebeu um pedaço de concreto na testa e desmaiou sangrando. Fui o primeiro a socorrer o companheiro acionando um policial que se encarregou de levar o veterano radialista ao centro médico do estádio.

A situação se complicou quando o árbitro paulista, Dulcídio Wanderley Boschila (foto a esquerda), falecido em São Paulo, em 14 de maio de 1998, aos 59 anos), marcou um pênalti para o Flamengo e convertido por Bebeto. Parecia que o estádio viria abaixo. Sobre nossas cabeças, na jaula destinada às emissores excedentes, voava todo tipo de objeto. Uma latinha de cerveja vazia (uma pena) veio me cumprimentar diretamente no rosto. Uma sandália acertou a cabeça do Rolando, que tentava disfarçar sua calvície com um boné tipo padeiro lusitano e que voou para longe e não mais foi encontrado. Um sufoco interminável, transformado em pavor, ao sentir um bando de celerados descarregar sua ira e frustração nos profissionais forasteiros que estavam no Mineirão.

Encerrado o jogo com a vitória do Flamengo, e os impropérios e ameaças dos atleticanos que ainda restavam, encontramos na porta do estádio o companheiro Luiz Mendes com uma faixa na cabeça que encobria sua careca e o ferimento provocado por um insano. Agradeceu nossa solidariedade e sumiu em direção a viatura com o logotipo de sua rádio, mas não sem antes garantir que nunca mais voltaria a Belo Horizonte, principalmente ao Mineirão, onde, segundo ele, passou um sufoco nunca antes visto em sua já longa carreira de comentarista esportivo.

Para nós, Rolando e eu, restava ainda a odisséia de passar a noite sobre uma cama de concreto, num espaço úmido e frio. O Rolando, que era espírita, arranjou em uma banca noturna um livro próprio. Eu, sem essa prerrogativa, não por falta de alternativa, preferi passar a noite no boteco ao lado do Mineirão, acompanhado por umas cervejas no ponto. Pela manhã, num vôo direto, Pampulha/Congonhas, rumamos para São Paulo, deixando para trás mais uma missão cumprida. Outras viriam. Sim, antes que me esqueça... O Flamengo foi campeão daquele Brasileirão.
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*Oswaldo Lavrado é jornalista/radialista radicado no Grande ABC
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domingo, 28 de novembro de 2010

SÁBADO, 27 DE NOVEMBRO DE 2010
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SEXTA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2010

Este blog completa hoje 500 postagens em menos de dois anos de atividades e fica muito perto das 200 mil visitas. Quase uma crônica por dia. Nesta semana de festa para todos nós, o amigo jornalista e escritor, Guido Fidelis, lançou seu novo livro, cuja resenha você pode acompanhar logo depois deste texto.

Para quem não conhece os bastidores de um blog, parece fácil chegar a esse número. Não é, principalmente quando se procura editar um texto com qualidade. Pode custar até seis horas de trabalho uma só edição com ilustrações, e madrugadas sem dormir. E foram muitas madrugadas e manhãs lutando contra problemas técnicos, raios e trovoadas para se chegar até aqui.
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No começo eu estava só. Meu amigo de longos anos, J. Morgado, veio em meu socorro e suas crônicas caíram na graça dos nossos leitores. Logo outros amigos foram chegando e se tornando íntimos de todos que frequentam este blog. Édison Motta, Oswaldo Lavrado, Milton Saldanha, Garcia Netto, Ademir Medici, Guido Fidelis, Lara Fidelis. Virgínia Pezzolo e agora outro velho amigo, Carlos Laranjeira, nos brindando com esta série fabulosa, “Histórias de Adhemar”.
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Alguns surgiram como relâmpagos e desapareceram sem brilho. Mas, uma estrela iluminou este blog, e foi de fundamental importância para que esse espaço não morresse. A brilhante jornalista gaúcha Nivia Andres, que não só escreveu textos maravilhosos como tomou para si, durante um bom período, o comando deste blog, cobrando textos dos nossos colaboradores, organizando matérias para datas especiais e passando também, como eu, horas a fio editando o material para que ele chegasse com qualidade ao nosso leitor. Nivia Andres, além da amiga de todas as horas, mostrou que é competente e, acima de tudo, uma extraordinária profissional. Uma das melhores que conheci.
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Não posso deixar de mencionar e agradecer nossa querida amiga Ilca Marqueiz, que nos cedeu com exclusividade todo o material escrito pelo falecido jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso de Jornalismo, que gerou a série “Memória Terminal”, sucesso estrondoso deste blog que, em alguns capítulos, atingia picos de 800 a 1.000 visitas. Estamos nos aproximando das 200 mil visitas ao blog, outra importante marca que debitamos na conta dos nossos leitores, muitos fiéis, que não deixam de vir e opinar um só dia. Na verdade, todo este trabalho não teria repercussão sem os nossos leitores (as), responsáveis por este sucesso e pelas marcas importantes que vamos conquistando.
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São 4 horas da madrugada, e eu ficaria mais algum tempo escrevendo sobre esta data importante, mas é hora de parar, porque o trabalho vai continuar com essa postagem. E como tudo é festa, vamos também comemorar o lançamento do novo livro de Guido Fidelis, cujo texto você acompanha nesta sequência. Atingimos 500 postagens. Temos quase 200 mil visitas. Muito obrigado a todos!
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LANÇAMENTO
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O amigo escritor e jornalista Guido Fidelis (foto) está com um novo livro na praça, lançado esta semana pela RG Editores, de São Paulo. Guido narra com singular poesia e sagacidade, o mundo que o alfabeto reserva, em inspirados e românticos verbetes sobre sons e significados de cada letra de nosso alfabeto, e as surpresas que elas reservam quando unidas em palavras. Para desvendá-las, basta folhear as páginas deste novo e empolgante livro escrito por Guido Fidelis, sobre os signos da própria vida humana.
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Muito antes de suspeitar que as letras desenhadas nos livros e jornais que via pela casa relatavam a história do homem sobre a terra, o menino se encantava com o mistério das combinações que encontrava em cada pedacinho de papel. O enigma daquele mistério ocupava suas horas e dias, mais do que qualquer brinquedo característico da infância.
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Não demorou muito a achar semelhança entre as palavras, associações de consoantes e vogais milhares de vezes repetidas, apaixonar-se pela escrita sem nem mesmo saber o significado daqueles desenhos e riscos. O destino estava traçado, portanto, antes dos bancos escolares, das lições dos primeiros mestres e das cartilhas que povoavam a infância dos que podiam chegar até elas.
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O menino se fez homem, estudou, trabalhou, viveu a vida como deve ser vivida. E passou a escrever sempre. As primeiras garatujas deram lugar a palavras bem articuladas, logo mais a textos exprimindo ideias e sensações próprias e, depois, vidas alheias em novelas, crônicas e contos. Estava pronto o escritor que nascera praticamente junto com o menino empolgado com os desenhos das letras de velhos jornais.
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Depois de muitos livros, de prêmios e distinções diversas, milhares de publicações na imprensa, Guido Fidelis busca pagar o que deve ao alfabeto, escrevendo um delicioso livro sobre ele, ou melhor, sobre elas, as diferentes formas que os povos encontraram para esquematizar em pequenos símbolos os sons que as bocas emitiam, os tais fonemas. E assim surgiu mais este saboroso volume, editado pela RG Editores, de São Paulo, tão encantador quanto o próprio som da voz humana e tendo como substrato, ardores e sentimentos que ela decodifica e expressa. Mistério e magia desses verdadeiros símbolos da vida.
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A MAGIA DAS PALAVRAS
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Neste novo livro de Guido Fidelis, cujo exemplar recebi devidamente autografado pelo amigo e autor, dei um salto em sua leitura, parando na página 113, das mais de 150 deste volume, para destacar a letra S, que Guido denomina “jeitão de cobra”. Como hoje é sexta-feira e este blog está completando 500 postagens com este texto, extraí este trecho: “Sexta-feira de todos os sonhos. Do carnaval que se foi, da serpentina esvoaçando na avenida, dos amores que ficaram perdidos nas praias, das novas paixões que surgiram. Sexta-feira do trabalho, da correria, de organizar a agenda para a próxima semana que promete muita agitação. Mas também apenas uma sexta-feira para projetar o final de semana. Muitas opções: cinema, teatro, música, um mergulho para sentir o frescor das águas marinhas, restaurantes ou mesmo um repouso em casa. Faça sua escolha na roleta do lazer. Divirta-se, esqueça o furor das ruas congestionadas, o caos da chuvarada, os escândalos, os dentes da Receita Federal e viva intensamente. Abrace os amigos, alegre-se, alegria é fundamental, tristeza é pecado, felicidade é virtude”.
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O livro de Guido Fidelis pode ser encontrado na RG Editores, pelo fone (011) 3105 1743 ou pelo site: http//www.rgeditores.com.br/contatos.htm.
Preço do exemplar: R$ 20,00.
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*Edward de Souza é jornalista e radialista
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010




O ano de 1934 é, do ponto de vista político, um dos mais produtivos para o Brasil, pois a Assembléia Nacional Constituinte elabora uma nova constituição, mantém o sistema democrático republicano, elege Getúlio Vargas presidente e estabelece eleições presidenciais livres e diretas em 1938. Ainda em 1934, os constituintes estaduais escolhem os governadores, acabando provisoriamente com a figura do Interventor.


Em São Paulo, os constituintes elegem governador - sem o voto do perrepista Adhemar de Barros - o engenheiro Armando de Salles Oliveira, cunhado de Júlio de Mesquita Filho, os dois principais responsáveis pela criação da USP (Universidade de São Paulo). Com a eleição de Salles, o jornalista Paulo Duarte, amigo da família Mesquita, retorna do exílio na França ao qual se sujeitou após a revolução de 1932. Em decorrência desses fatos, os paulistas consideram a sua revolução vitoriosa e passam a celebrá-la no mês de julho, pois o propósito de fazer o país retornar ao estado de direito, ou seja, o de limitar o poder do governo ao cumprimento das leis, havia sido alcançado, a despeito de terem sido derrotados pelas armas.

Teriam limitado mesmo Getúlio Vargas
ao cumprimento das leis?
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Em 1937, o governador Armando de Salles Oliveira decide afastar-se do governo para concorrer à presidência da República contra o ministro da Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida (foto). Vargas tenta dissuadi-lo da candidatura com o oferecimento do Ministério da Fazenda, a pretexto de que a situação política do país é extremamente difícil para realizar eleições em decorrência da divisão ideológica entre comunistas e integralistas. Armando não aceita a oferta e começa a levar às ruas a sua candidatura pelo Partido Democrático, a mobilizar as lideranças políticas afinadas com as idéias do seu grupo e a conceder entrevistas contra o governo Vargas. Os quatro maiores jornais paulistas são pela ordem: A Gazeta (90 mil exemplares), O Estado de S. Paulo (85 mil), Diário da Noite (60 mil) e o Correio Paulistano (45 mil exemplares diários).

Não só em O Estado de São Paulo, do qual havia sido diretor, Armando Salles Oliveira aparecia diariamente, nos outros três jornais também, por obra de Paulo Duarte. A efervescência política cresce, com manifestações de ruas também de integralistas e comunistas (curiosamente, Plínio Salgado, fundador do movimento integralista, escreve o livro Espírito da Burguesia, que serve até hoje de inspiração para os textos dos escritores da esquerda brasileira, que não o citam por vergonha). Nessa ebulição, surge o boato da existência de um plano comunista para a tomada do poder, então no dia 10 de novembro desse ano Vargas dá o golpe:

Rasga a carta constitucional de 1934, que estabelecia eleições presidenciais livres e diretas em 1938, apresenta à nação uma nova constituição elaborada pelo seu ministro da Justiça, Francisco Campos, com a aprovação do ministro da Guerra, Eurico Gaspar Dutra. Nesse mesmo dia, implanta a ditadura do Estado Novo por meio da qual fecha todas as casas legislativas (câmaras de vereadores, assembléias, Câmara e Senado Federal), impõe censura à imprensa e volta a nomear interventores para os estados. Simultaneamente, manda prender o ex-governador Armando de Salles Oliveira.

Ao saberem dos acontecimentos, os estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco saem às ruas para protestar, um dos quais é Roberto de Abreu Sodré, que viria a ser governador e deixaria gravada a sua memória em letra de forma no livro No Espelho do Tempo – Meio Século de Política e no qual relata as suas prisões e de colegas de faculdade. Nesse livro, Sodré lembra que os panfletos contra a ditadura de Vargas eram impressos numa gráfica “da estrada do Vergueiro, caminho para Santos”, ou seja, em São Bernardo do Campo.
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Armando segue para o exílio
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No Rio de Janeiro, cidade em que construiu amizades influentes desde os tempos da Faculdade Nacional de Medicina (foto), onde também se formaria médico o mineiro Newton da Costa Brandão, duas vezes deputado estadual e três prefeito de Santo André, Adhemar de Barros é apresentado a Getúlio Vargas, que pede para visitá-lo em São Lourenço, MG, onde o ditador passaria um período de férias. Adhemar vai seguidas vezes a São Lourenço, cidade adaptada em sede do poder. Recebido por Getúlio, ambos se ligam por laços de simpatia e Vargas decide nomeá-lo Interventor Federal em São Paulo em lugar do professor Cardoso de Mello, que estaria servindo aos interesses da família Mesquita. No final de abril de 1938, o filho mais ilustre de Piracicaba, criado em São Manoel, começa a despachar no Palácio dos Campos Elísios.

O jornal O Estado de S. Paulo o critica, por considerá-lo homem do interior, sem experiência para governar o estado, então para mostrar que “homem do interior” também sabe governar Adhemar dá início à construção de três grandes obras: a Rodovia Anhanguera, para facilitar o transporte da produção agrícola e industrial do interior à capital; a Via Anchieta, para transportar a produção industrial ao porto de Santos e o Hospital das Clínicas, que seria o maior do país. Nesse ambiente começa a circular um jornal de nome Brasil, que esculhamba o Interventor e o ditador.

“Você tem de descobrir esses criminosos,” avisa Vargas a Adhemar. Presos, Paulo Duarte e Júlio de Mesquita Filho, eventuais autores do Brasil, seguem para o exílio. Colaboradores chamam a atenção do Interventor para o fato de O Estado de S. Paulo guardar armas em sua sede, Adhemar manda a polícia investigar e os policiais as teriam encontrado. Avisado, Vargas decide intervir no jornal, cujo diretor, Francisco Mesquita, irmão de Júlio Mesquita, pede a Adhemar, em nome do estado, para não permitir a intervenção no seu jornal: “Dr. Francisco, sou um delegado do governo federal em São Paulo. Então, sinto-me na obrigação de garantir a intervenção.”

A turbulência na política paulista vai aumentar, o sofrimento dos seus principais personagens, também. Aliás, a amargura e a angústia seriam tão grandes que Armando de Salles Oliveira não resistiria e Júlio de Mesquita preferiria retornar ao Brasil e ser preso a continuar no exílio sem dinheiro e sem perspectivas de vida.
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Diretor do POLÍTIKA DO ABC e do JORNAL DO LIVRO, o jornalista Carlos Laranjeira é autor de vários livros, o mais recente, POLÍTICA PARA PRINCIPIANTE.
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NA PRÓXIMA QUARTA-FEIRA, ACOMPANHE O QUARTO CAPÍTULO DE "HISTÓRIAS DE ADHEMAR", COM EXCLUSIVIDADE PARA ESTE BLOG. (EDWARD DE SOUZA).
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terça-feira, 23 de novembro de 2010

SEGUNDA-FEIRA, 22 DE NOVEMBRO DE 2010

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As escolas nunca estiveram tão vulneráveis à violência. O palco da sabedoria se transformou num espaço da indisciplina. Estudar também não é preciso, porque a repetência escolar está proibida pelas autoridades de ensino. Não dão o menor respeito ao professor, ao diretor e aos funcionários dos estabelecimentos educacionais. A agressão contra eles está se tornando prática comum e não há nada que se possa fazer para puni-los. São menores de idade e estão preparados para fazer dos professores suas vítimas. Quem estuda nos colégios particulares é protegido por um esquema que inclui câmeras, crachás eletrônicos e vigias disfarçados. Nas escolas públicas, é a polícia que garante a segurança dos alunos, mas apenas do lado de fora. Só que as ameaças, há muito tempo, já ultrapassaram os muros.
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Dia desses recebi um e-mail mostrando como nós, os nascidos antes da década de cinquenta éramos felizes. Não tivemos psicólogos, aparelhos nos dentes, vacina contra tudo, nem aulas de judô, inglês ou de prevenção às drogas. Agora chega às manchetes outro mal que nunca assolou os de minha geração e que atende pelo sofisticado nome de “bullying” e já mereceu manchetes policiais até na nossa pacata província de bons costumes e pouca violência. “Bullying” vem do inglês significando ”valentão”, ”arruaceiro”, aquele garoto forte que todos nós conhecemos nas escolas que dava porrada em todo mundo, tomava o lanche e ameaçava os mais fracos com fantasias sexuais terríveis. Toda escola tinha um e todos nós, os magros (na época) e pacíficos, tremíamos diante dele como diante do diabo, mas isso nascia e morria no âmbito escolar e um dia o valentão sumia sem deixar traumas.

Como nos Estados Unidos tudo é diferente, “bullying” virou tema de estudo, matéria de psicólogos e sociólogos que tentam explicar como esses “bad-boys” podem levar os mais fracos a atos extremos de violência como matar colegas e professores naquelas chacinas escolares bem ao gosto dos americanos e que a gente assistia pensando que nunca chegaria aqui. Como sempre o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, o “bullying” chegou às nossas escolas, provocando revolta dos humilhados que recorrem à rede da internet para fazerem suas ameaças veladas de revolta e vingança. Recentemente um garoto de treze anos foi atacado, encharcado de gasolina e virou uma pira humana. As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento, podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio.

Quando a brincadeira chega a esse ponto de assustar pais e alunos, deixa de ser brincadeira e passa a ser delito, tentativa de assassinato, coação ou qualquer outro nome do vasto repertório jurídico nacional. E, como tal, deve ser combatido com forças para que não finque raízes em nossas escolas nem termine por levar a vítimas fatais. Triste País este, que fez de nossa Educação um arremedo de fonte do saber. Impor limites e fortalecer laços de amor e solidariedade são imprescindíveis na difícil missão de criar filhos e com eles os valores necessários e tão escassos neste milênio. É inadiável a reconstrução da família, sob pena de derrocada total.

O FIM DE UMA GERAÇÃO

A continuar assim, dentro de alguns anos faltará uma geração no Brasil, uma geração que se perdeu na droga, no crime e na repressão policial. Diariamente os jornais e televisões nos mostram centenas de adolescentes mortos pela periferia das cidades brasileiras, meninos que oscilam entre 13 e 16 anos e que encontram a morte em briga de quadrilhas, ajustes de contas ou em enfrentamento com as forças policiais. Essa geração que poderia e deveria ser o futuro brasileiro é um imenso cemitério de cruzes brancas marcando o nosso desprezo por toda uma juventude. Esses meninos morrem porque temos uma perversa distribuição de renda, bolsões de pobreza, mas e principalmente porque não lhe acenamos com outras oportunidades que não o crime e a droga. Eles não encontram nos bairros onde moram educação e motivação para frequentar escolas e assim são atraídos pelo crime, mais lucrativo, mais urgente e mais glamoroso.

O que os governos estão fazendo com as novas gerações é um verdadeiro crime porque não as prepara para o futuro. Basta fazer qualquer pergunta a um desses estudantes e certamente não saberão responder, por mais simples que ela seja. Afinal de contas, o que estava errado no sistema educacional do passado para ter havido uma mudança radical e tão irresponsável? Que modernismo é esse que está criando uma geração de criaturas à margem do saber e do caráter bem formado?

Desde que Darcy Ribeiro (foto) com Leonel Brizola pensaram os Cieps - um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal - ninguém mais quis alimentar nem reforçar essa idéia e os meninos são atraídos facilmente para a vida aparentemente fácil do tráfico nas horas vazias em que enchem as ruas e onde iniciam sua prática criminosa. Não que a escola integral fosse a cura milagrosa para todos os males, mas ela daria ao mesmo tempo, educação, alimentação, cuidados médicos e principalmente encaminharia o jovem para uma profissão oferecendo-lhe ao menos uma alternativa ao dinheiro abundante do crime. No entanto, nosso governo prefere investir em cadeias e centros prisionais do que em educação. Em Franca, existe a ameaça do fechamento de seis escolas tradicionais, o que é um absurdo. E ficamos a assistir, impassíveis, essa geração ter seus sonhos e sua vida roubados nas noites escuras do crime como se não fosse problema nosso nem tivéssemos que responder no futuro por toda essa geração que deixamos perecer apenas por não lhe oferecer alternativas à morte.
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*Edward de Souza é radialista e jornalista
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domingo, 21 de novembro de 2010

MENSAGEM DE DOMINGO
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O mundo, esse largo orbe, precisa parar para pensar. Que tal uma utopia mundial por um dia? As pessoas não sairiam de suas casas. Televisões, rádios e internet deixariam de funcionar. A indústria, o comércio e serviços paralisariam. Ficaríamos silentes. Faríamos balanços das nossas vidas. Infância, crescimento, desempenho profissional, relações afetivas, engajamentos - ou não - com os outros. Os outros são aqueles com quem não temos laços de sangue, amizade ou interesse. Os outros são a humanidade. A soma dos indivíduos da Terra. Passaríamos esse dia em pleno silêncio, nada funcionaria, as ruas ficariam desertas, aeroportos fechados e faríamos reflexões. Até um breve jejum de carnes e peixes. Tomaríamos água com vagar e pensaríamos no desperdício causado à natureza. Olharíamos uns para os outros, mas sem toques ou palavras. Pés descalços e roupas usadas.
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Edward de Souza
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sábado, 20 de novembro de 2010

SEXTA-FEIRA, 19 DE NOVEMBRO DE 2010


Ultimamente tenho ouvido muito a palavra cremação quando se trata de dar fim aos mortos. Aliás, os fornos crematórios têm crescido muito na Europa e no Brasil nos últimos dez ou doze anos. Segundo o Serviço Funerário de São Paulo, em 1995 houve quase 3000 cremações e em 2007, o número saltou para quase seis mil. Em 1997, havia apenas três crematórios, em 2007, esse número aumentou para 23 espalhados pelo país (fonte, Folha de São Paulo-24/02/2008). Acredito que neste ano de 2010, os estabelecimentos que se dedicam a esse mister já aumentou consideravelmente.

Nos Estados Unidos e na Europa, somam-se as centenas as instituições dedicadas a queimar os mortos e colocar as cinzas em pequenas caixas ou vasos. No Brasil, a cremação é regulada pela Constituição. Quem quiser ter o cadáver reduzido a pó precisa deixar essa vontade devidamente registrada, com documento assinado por testemunhas e reconhecido em cartório. Em São Paulo, no Crematório de Vila Alpina, o serviço é 100% gratuito apenas se a pessoa for doadora de órgãos e tiver falecido na cidade. Do contrário, é preciso pagar taxas a partir de R$ 300,00.

Este intróito informativo é apenas para dar início à questão cremar ou enterrar segundo as convicções religiosas de cada um. O costume da cremação é milenar, surgiu na Idade da Pedra em grande parte da Europa. Foi praticado no início do cristianismo e durante muito tempo prevalecia entre as civilizações de então. No mundo ocidental, por volta do século 10 a.C., os gregos já queimavam em fogo aberto corpos de soldados mortos na guerra e enviavam as cinzas para sua terra natal. No Egito praticava-se a mumificação e na Judéia, enterravam os corpos em tumbas; na China, realizavam sepultamentos em terra.
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Surgem sempre muitas dúvidas quando o assunto cremação é posto diante da religião. Os judeus, por exemplo, acreditam que o corpo não pode ser destruído, pois a alma se separaria dele lentamente durante a decomposição. Já a maioria das religiões aceita a prática da cremação. O catolicismo faz parte dessa maioria (apesar de sacerdotes conservadores), tanto que o Vaticano a reconheceu como prática em 1963, em documento oficial na Instituição. “Entretanto, de si, a cremação não é boa nem má, podendo mesmo ser utilizada como necessidade em casos de peste, de catástrofes, nas quais a corrupção lenta de um grande número de cadáveres pode ser perigosa para a saúde (exalações pestilenciais, contágio, etc.”, diz representantes da Igreja.

“Nada tão certo quanto à morte” é um dito popular de uma verdade concreta. Vejo pessoas que passam a vida inteira com medo do desenlace final. Qual a razão? É provável que a resposta esteja no excesso de materialismo ensinado pelas religiões durante séculos. Nos cemitérios, túmulos suntuosos e outros nem tanto. Outros, em uma simples campa. Qual o destino desses cadáveres que estão destinados a corrupção e a ser devorados por vermes? Garanto que títulos pomposos e riquezas não livrarão ninguém da frase bíblica “do pó vieste, ao pó voltarás”. No caso da cremação, o destino é o mesmo. Acho até que seria mais higiênico.

As religiões acreditam na vida após a morte. Divergem apenas de como seria a existência em outra dimensão. Muitos, no caso da religião católica e outras evangélicas e protestantes (cristãs), acham que os corpos decompostos serão revividos após o Juízo Final, pois acreditam na Ressurreição. Outros acham que o fogo purificará o espírito e os fará reviver em paraísos celestiais.

E o Espiritismo? Uma doutrina codificada por Allan Kardec (foto) a partir de 1857, com a introdução do Livro dos Espíritos e seguidos por outros quatro. “O espiritismo não proíbe a cremação de cadáveres, mesmo porque nada é proibitivo no Espiritismo, pois é uma doutrina de liberdade, mas antes de tudo, uma doutrina de conscientização. Recomenda, todavia, muita cautela para aqueles que venham adotar o procedimento da cremação de cadáveres, em substituição a inumação (sepultamento)”, diz Freddy Brandi.

No caso de pessoas muito apegadas à matéria, é possível, segundo muitos relatos de espíritos, que estas passem pelo suplício de “sentir” a decomposição do corpo. O espírito identifica-se de tal forma com a vida material, e é tão ignorante acerca da vida espiritual, que julga sentir corrupção no invólucro carnal, já imprestável e em processo natural de transformação. No caso de cremação, mesmo uma pessoa com o sentido da vida espiritual, caso ainda se encontre em estado de perturbação (morte súbita ou violenta, por exemplo) pode “sentir” o calor da fornalha. O corpo está morto, obviamente! Mas o espírito pode ainda não estar inteiramente desligado, e por isso, ao ver-se cercado pelas chamas, associa à sensação de queimadura e sofre. É de bom alvitre aguardar 72 horas antes da cremação.

Enterrar ou cremar, não importa. O que devemos entender, é como devemos nos comportar durante a vida terrena. Se nos associarmos às leis divinas, certamente teremos um desenlace ou uma volta para a espiritualidade de maneira serena e tranquila. É difícil eu o sei, mas não impossível. Não importa se o indivíduo é religioso ou não, o que vale é o seu comportamento durante o tempo que lhe foi conferido para seu aperfeiçoamento espiritual na Terra.
Os possíveis leitores poderão estar perguntando como procederia o autor deste artigo quando de seu desencarne? E eu respondo: provavelmente serei enterrado. Um túmulo (comprado há mais de 40 anos) me aguarda em um cemitério jardim.
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*J. MORGADO é jornalista, pintor de quadros e pescador de verdade. Atualmente esconde-se nas belas praias de Mongaguá, onde curte o pôr-do-sol e a brisa marítima. J. Morgado participa ativamente deste blog, para o qual escreve crônicas, artigos, contos e matérias especiais. Contato com o jornalista? Só clicar aqui:
jgarcelan@uol.com.br
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