Em casa, depois de alguns dias de amnésia causada pelos medicamentos na tentativa de conter a infecção, minha mulher me diz que o Ricardo Hernandes esteve me visitando no hospital. Eu sequer me lembrava dessa visita, mas agora recordo da crônica que escrevi falando dele e de sua doença. Saiu publicada em um jornal de Bálsamo e o Ricardo a divulgou pela internet. A crônica, como publicada no original:
Numa manhã, durante o velório de um fotógrafo no Cemitério do Camilópolis, em Santo André. Vi meu amigo Ricardo Hernandes – então assessor de Imprensa da General Motors do Brasil - levando à boca uma pequena garrafa com água mineral e dando um gole, curto e rápido. Como a cena voltava a se repetir quase que continuamente, ousei perguntar o porquê daquele procedimento. Ele, com seu jeito professoral que conheço há quase meio século, explicou que passara por um tratamento de radioterapia e, em consequência, perdera a saliva e agora precisava “estar sempre molhando a goela” para não ficar com a garganta ressequida.
Confesso que, na hora, fiquei compadecido da situação em que se encontrava o meu amigo e cheguei inclusive a escrever uma crônica sobre o assunto, a qual lhe enviei via e-mail. Ficava imaginando como seria uma pessoa viver sem a saliva, uma manifestação tão natural do corpo humano que a gente sequer dá importância. Mal sabia eu que, não muito tempo depois, iria me submeter a tratamento similar de radioterapia e, assim como o bom Ricardo, teria secado as glândulas salivares. Tornei-me, também, um homem sem saliva, que os dicionaristas definem como “líquido transparente e insípido que serve para fluidificar os alimentos e facilitar a sua ingestão e digestão”.
Agora, desde que fiz o primeiro tratamento de radioterapia, sou outro que vive obrigado a carregar um pequeno recipiente com água para ir regando a garganta. Só que, em vez de um invólucro de plástico como o de Ricardo, optei por utilizar uma pequena garrafa de vidro que, nos meus velhos e sórdidos tempos, vinha carregada de bebida alcoólica. O uso dessa garrafinha, muito conhecida por ser vista em filmes norte-americanos e ser apetrecho comum de caubóis e executivos, continua me causando constrangimento e provocando cenas inusitadas.
Antes de recomeçar com a quimioterapia, caminhando por uma das ruas da cidade onde moro, sob um sol ardente, tirei do bolso a pequena garrafa e, depois de tomar um gole, soltei um ah! de satisfação. Nisto, uma senhora que passava ao lado, ao me ver bebendo, fez o sinal da cruz e balbuciou o secular Cruz Credo. De outra feita, encontrei um conhecido dos tempos em que bebia e, ele, ao ver a garrafinha no bolso da camisa, comentou: “Você continua o mesmo, hein, sempre prevenido”. E teve também aquele que, ao me encontrar pela manhã, disse, quase exclamando: “Bebendo vodca logo cedinho...”
É comum, ainda, que eu seja alvo de olhares críticos quando, em algum recinto fechado, ao perceber a garganta seca, sinta-me obrigado a tirar a garrafinha do bolso e sorver um pouco da água, mas que, à distância, parece cachaça, mais pura impossível. O problema se torna mais constante em razão das minhas atividades profissionais. Toda vez que vou entrevistar alguma pessoa sou obrigado a explicar que, por causa da radioterapia, fiquei sem saliva e preciso da água.
Um dos casos mais recentes ocorreu em Belo Horizonte. Cheguei para entrevistar um empresário e, na hora em que fui justificar a presença da garrafinha, ele, muito compreensivo, se adiantou: “não precisa falar nada, meu jovem. Eu também já fui um alcoólatra e sei que quando a gente chega nesse estágio é preciso estar sempre dando um golinho na maldita...”
Durante meu período de descanso, sem deixar de tomar os remédios contra dor, muitas vezes lembrava-me dos meus companheiros de quarto. Uma dessas era uma ascendente de japoneses. Otimista, vivia a sorrir e parecia brincar com o tumor corroendo o seu organismo. Gostava de contar estórias, principalmente as relacionadas com as suas viagens internacionais. Deveria pertencer a alguma família dotada de bons recursos econômicos e financeiros. Ela, dizia, já viajara praticamente os principais países do mundo. Depois dessa sessão de quimioterapia, fazia planos de ir para a Itália e conversava com o seu estômago: vê se não dá abrigo para as células cancerígenas desta vez, porque adoro comida italiana, divertia-se e o seu comportamento chegava a impressionar médicos e enfermeiros experientes. Lembrava-se de sua estada em Paris – foi obrigada a retornar devido ao agravamento da doença. Por essa razão, desta vez, pedia para o câncer deixá-la em paz na viagem à Itália.
Outro companheiro de quarto difícil de esquecer é o de um nordestino, homem forte, acostumado com serviço pesado, à espera de ser encaminhado ao Centro Cirúrgico e ser operado do estômago. Sua mulher, morena simpática, de traços fortes, o acompanhava. Quando ele foi levado do quarto, ela se ajoelhou e começou a rezar – para quem, desconheço. A situação se agravou, no entanto, quando trouxeram o seu marido de volta ao quarto, menos de uma hora depois de sua saída. Os médicos lhe disseram que a cirurgia fora suspensa devido à gravidade do caso e eles tentariam combater as células cancerígenas com o tratamento quimioterápico. O marido ainda entorpecido pela anestesia, os olhos fechados, permanecia inerte na cama. Ela chorava e voltara a rezar.
Há ainda o caso de um rapaz, alto, loiro, pouco mais de vinte anos, que sempre adormecia com um tampão nos olhos. A sua mãe não o deixava sequer um instante. Os médicos fizeram um exame e agora estavam examinando para verificar como se encontrava o seu estado de saúde. Ele era só alegria e fazia planos para voltar a andar de motocicleta e, se possível, retornar ao trabalho. O curioso era o seu endereço: morava no mesmo bairro onde eu residia, a dois quarteirões de distância. Ficamos de nos encontrar quando tivéssemos alta médica. Era um jovem amigo a acrescentar em minha vida, pensei. Engano. Pouco mais de duas semanas depois, informaram-me de sua morte. Eu, ainda esperançoso, prosseguia com o tratamento.
Permaneci como funcionário da Prefeitura de Santo André por quase três anos, de 1979 até o final de 1982, quando acabei demitido. O prefeito era o mesmo que me demitira a primeira vez, na década de 70: o meu padrinho de casamento Newton da Costa Brandão, duas vezes padrinho, duas vezes demissões. Nesse período, como praticamente não fazia nada, bebia em demasia pela manhã e dormia à tarde. Voltava à Prefeitura para marcar o cartão de ponto e tornava a beber. A Ilca jamais interferiu em minha vida e, por sua natureza, nada comentava e aceitava continuar vivendo com aquele homem em declínio moral e profissionalmente.
Um dos pontos positivos desses anos, acredito, deve ter sido o lançamento da minha novela Adeus ao Continente, lançada em 1982, em um bar noturno. Vários amigos compareceram para prestigiar o lançamento. A jornalista e crítica de Literatura Virginia Pezzollo publicou uma resenha no Diário do Grande ABC, com a foto da capa do livro – os símbolos sexuais feminino e masculino girando com o universo. E Virginia Pezzollo quem escreve: "José Marqueiz que pela sua trajetória no jornalismo recebeu o Prêmio Esso Nacional, começa a se firmar na literatura, campo onde incursiona com alguma habilidade. Após Ilha Humana, premiado pela Prefeitura de Manaus e Villas Boas e os Índios, volta às livrarias com novo título: Adeus ao Continente, embora o autor o apresente como romance, é uma novela. A trama, quase isolada, firma-se entre dois e três personagens; o que não diminui, em absoluto, o mérito do trabalho. Talvez, apenas, altere sua classificação literária, muito embora os tênues limites entre ambos os gêneros sejam por demais conhecidos".
Virginia continua: "dono de prosa ágil, de agudo senso de observação das contradições do ser humano, José Marqueiz relata o difícil percurso de alguém em busca de sua própria identidade de reconstrução anterior que o leva a dar o seu Adeus ao Continente, quando procura encontrar-se na solidão de uma ilha. Achar uma verdade que se encontra muito mais entre os que o cercam, o ambiente social que rejeita ou discrimina os que não se curvam nem se amoldam aos padrões estabelecidos".
Após comentar o desenrolar da narrativa, a jornalista encerra: “a própria personagem, angustiada e aflita por sua condição de homossexual que acompanha os crescentes sinais de decadência física, ganha do autor passagem onde se evidencia uma espécie de autopunição pelo fato de não ser exatamente igual aos demais. Chega a ser compreensível certos senões moralísticos num terreno onde é enorme a soma de ideias pré-concebidas. Isso não impede que Adeus ao Continente seja de uma leitura atraente e agradável, pois, acima de tudo, José Marqueiz conta uma história que o leitor acompanha com interesse e facilidade. Até ao fim de certa forma inusitado, onde o autor, propositadamente, joga a trama numa espécie de vácuo, do qual o leitor é chamado a participar, a colaborar na transformação de Ricardo num novo homem, como ele afirma”.
Apesar da crítica favorável, não me senti entusiasmado a continuar escrevendo, praticando literatura, como se diz. Só dez anos mais tarde é que iria escrever um novo livro. Saindo da Prefeitura, fiquei quase um ano desempregado. Bebia, bebia, acelerava o declínio profissional. Mesmo nessa precária situação, consegui de um advogado amigo abertura de processo para conseguir o divórcio e estar legalmente apto a me casar de novo. O que veio ocorrer em 1984. Uma semana após o casamento no cartório civil – divorciado não pode casar no religioso pelos preceitos da Igreja Católica Apostólica Romana – me encontrei com o Fausto Polesi, então diretor de redação do Diário do Grande ABC. Perguntou como eu me estava e eu, respondi, secamente, me encontrar desempregado, sem ter dinheiro ao menos para pagar o aluguel da nova casa onde fui morar. No outro dia, voltava a trabalhar no Diário do Grande ABC.
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Na próxima quarta-feira, o décimo sétimo capítulo de "Memória Terminal", do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. O Prêmio Esso de Jornalismo é o mais tradicional, mais conceituado e o pioneiro dos prêmios destinados a estimular e difundir a prática da boa reportagem, instituído em meados da década de 50. (Edward de Souza/ Nivia Andres) Arte: Cris Fonseca.
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As leitoras DANIELA, do Rio de Janeiro (RJ) e CAROL, da Metodista, de São Bernardo do Campo (SP), foram as ganhadoras do livro "Villas Boas e os Índios", de José Marqueiz, sorteados na semana passada e já receberam seus exemplares. A Ilca Marqueiz enviou outros dois livros, que serão sorteados no próximo capítulo.
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Na próxima quarta-feira, o décimo sétimo capítulo de "Memória Terminal", do jornalista José Marqueiz, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo, falecido em 29/11/2008. O Prêmio Esso de Jornalismo é o mais tradicional, mais conceituado e o pioneiro dos prêmios destinados a estimular e difundir a prática da boa reportagem, instituído em meados da década de 50. (Edward de Souza/ Nivia Andres) Arte: Cris Fonseca.
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As leitoras DANIELA, do Rio de Janeiro (RJ) e CAROL, da Metodista, de São Bernardo do Campo (SP), foram as ganhadoras do livro "Villas Boas e os Índios", de José Marqueiz, sorteados na semana passada e já receberam seus exemplares. A Ilca Marqueiz enviou outros dois livros, que serão sorteados no próximo capítulo.
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Olá amigos e amigas deste blog...
ResponderExcluirEm quase todos os capítulos desta série que faz enorme sucesso na Internet, o saudoso amigo, jornalista José Marqueiz, sempre cita alguns bons companheiros da época em que trabalhávamos no Diário do Grande ABC. Hoje, Marqueiz, vocês leram, falou sobre Ricardo Hernandes, fotógrafo profissional dos melhores, ex-assessor de comunicações da GM e atualmente apresentador de TV num canal exclusivo para a Grande São Paulo. Ricardo apresenta um programa com entrevistas e assuntos do momento. Quase todos os dias, por e-mail, comunico-me com Ricardo Hernandes, bom companheiro da época do Diário do Grande ABC. Nesta segunda foto que viram no blog, para quem não conhece, da esquerda para a direita está outro amigo fotógrafo, o Luciano Viccioni, depois o Ricardo e outro saudoso amigo e brilhante profissional, o João Colovatti já conhecido de todos deste blog.
Na foto de abertura, os então jovens, Hildebrando Pafundi, bom amigo também do Diário do Grande ABC e hoje excelente escritor, José Marqueiz e Pedro Martinelli, no começo de sua brilhante carreira como fotógrafo no Diário do Grande ABC. Martinelli se tornaria famoso em todo o Brasil como fotógrafo de famosas para a revista masculina Playboy. José Marqueiz falou também no capítulo de hoje de Virgínia Pezzollo, que nos anos 70 foi diretora de redação do Jornal “O Repórter”, de Santo André, onde trabalhei sob seu comando. A redação, muitos amigos podem não se lembrar, ficava na Rua Coronel Oliveira Lima, no centro de Santo André, hoje um calçadão coberto. Trabalhei ao lado da Virgínia, Onofre Leite, Hélio Mauro Armond, Daniel Lima, Lázaro Campos, entre outros. Na ocasião eu era editor de polícia do jornal que havia passado a ser diário, Virgínia Pezzollo, esposa do Guido Fidelis e mãe de outra jornalista, a Lara, além de brilhante jornalista é escritora, dispensa maiores comentários, quase todos os frequentadores deste blog já leram crônicas suas aqui neste espaço.
Logo mais volto para falar um pouco sobre o capítulo de hoje, fiquei sem espaço para me alongar.
Um forte abraço a todos...
Edward de Souza
Outro capítulo excelente este publicado hoje e escrito pelo José Marqueiz, Edward. Não teve como não rir da tal garrafinha que ele carregava para poder molhar a boca por causa da quimioterapia, ou radioterapia, não sei. Todos achando que era bebida alcoólica. Tadinho, será que estava pagando pela fama? Só este empresário de Belo Horizonte deu uma de Madame K. Dent (falar nela, onde anda?), tentando achar que o jornalista era alcoólatra, quando na verdade, nada disso ocorria. Se fosse eu iria gritar bem alto "isso é água, provem".
ResponderExcluirOutra coisa. Que bom que a Ilca enviou outros dois livros. Como não fui sorteada na vez passada, quem sabe agora ganho um livro do José Marqueiz para ler. Vai ser na próxima semana o sorteio? A exibida da Carol me mostrou o livro de longe, nem deixou que eu o folheasse.
Bjos,
Tatiana - Metodista - SBC
Edward, no capítulo de hoje de Memória Terminal, pude verificar que a fama de bom jornalista de José Marqueiz tinha razão de ser. Observava tudo, tanto que narra as pessoas que chegavam ao hospital, o tratamento e o comportamento delas e de seus familiares. Fiquei com pena desse rapaz que ele disse ter 20 e poucos anos que chegou com um tampão no olho, aparentemente nada grave e era vizinho do Marqueiz. Não suportou o tratamento e morreu jovem, muito triste.
ResponderExcluirComo a Tatiana, também vou ficar atenta no próximo capítulo para ver se ganho um dos dois livros que serão sorteados. Ficaria feliz em ter um livro escrito pelo José Marqueiz.
Beijos!
Giovanna - Franca - SP
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa tarde, Edward!
ResponderExcluirRealmente, essa série de José Marqueiz nos traz muitas recordações. O professor João Paulo, que não conheço pessoalmente, identificou e lembrou-se do Ricardo Hernandes quando era pequeno e seu vizinho. Eu, como trabalhei nesta época no Diário do Grande ABC, claro, lembro-me de todos citados hoje aqui. O Luciano, que não sei por onde anda, bom fotógrafo, o nosso querido e saudoso João Colovatti, Pedro Martinelli, Pafundi, Virgínia Pezzolo e o nosso grande Faustão, o Polesi que Marqueiz cita neste texto de hoje. Nesta linhas finais, deu para todos perceberem o carinho especial que Fausto tinha pelo Marqueiz. Viajou com o Marqueiz para Portugal e estava sempre com as portas abertas para ele. O Fausto, para muitas leitoras e leitores que não sabem, era diretor de redação do Diário e um dos sócios-proprietários. O que me surpreendeu foi o Marqueiz contar que o Dr. Newton Brandão o demitiu duas vezes. Além de padrinho do Marqueiz, o Dr. Brandão, Prefeito três vezes e deputado estadual outras vezes, adorava o Marqueiz. Soube, isso a Ilca pode confirmar, que esteve no velório do Marqueiz e ficou um bom tempo por lá. E o Pedrão Martinelli. Esse saiu-se bem como fotógrafo da Playboy. Também não sei onde anda. As lembranças vão surgindo, conforme vou escrevendo, melhor parar por aqui. Volto para ler o outro capítulo, Edward. Meus parabéns pela série, muito boa!
Abração!
Flávio Fonseca - Jornalista
Boa tarde, pessoal!
ResponderExcluirAté eu encontrei um que conheci, embora não pessoalmente, o Pedro Martinelli. Quando jovem não deixava de comprar a revista Playboy. Não só pelas belas mulheres que a revista estampava em suas páginas, também pelos bons artigos que sempre publicava, não sei se continua. Nessa época, todas beldades, como Alcione Mazzeo, Sandra Bréa, entre outras que não me lembro agora, eram fotografadas pelo Pedro Martinelli. Muitas vezes as fotos eram feitas até na Grécia. Esse tinha a mão de ouro e o emprego que milhares pedem até nos dias de hoje a Deus. Ganhar muito e fotografar mulheres maravilhosas nuas.
Não perco um só capítulo desta série e também achei muito engraçado o caso da garrafinha com água. Escrevia demais o José Marqueiz.
ABÇS
Birola - Votuporanga - SP.
Caro amigo, colega de letras e jornalista Edward, amigos leitores dos capítulos dessa excelente série, Memória Terminal, do meu amigo e quase irmão José Marqueiz.
ResponderExcluirHoje fiquei emocionado e saudoso dos nossos tempos de juventude, a começar pela foto de abertura, que foi tirada por uma daqueles fotógrafos lambe-lambe, acho que é esse o termo, no Jardim da Luz, em São Paulo, na qual estou ao lado do Marqueiz e do fotógrafo Pedro Martinelli. Essa foto ficou muito famosa, porque o Ademir Medici a publicou mais de uma vez na sua coluna Memória, no Diário do Grande ABC, e a primeira delas, como uma legenda do José Marqueiz: "Éramos jovens e felizes e não sabíamos", ou coisa parecida.
Edward estou escrevendo de memória em uma lanhouse. Lembro também de ter trabalhado em diferentes épocas com os três fotógrafos que aparecem logo abaixo: Luciano, Ricardo Hernandes e João Colovatti. Com o Ricardo já me encontrei em diversas oportunidades em reuniões que fazíamos entre antigos colegas, que chamávamos de Encontro de Ex-Diário, para um almoço num restaurante de São Bernardo Campo. O Ricardo também chegou a me entrevistar algumas vezes a respeito de lançamento dos meus livros em seu programa de TV no Canal 45.
O Pedro Martinelli também encontro com certa frequência, quando ele aparece por aqui, em Santo André, para lançar seus livros de fotos da Amazônia, na Superbanca do seu irmão, na Avenida Lino Jardim, ou na Livraria Alpharrabio, na Rua Eduardo Monteiro. E quase sempre nos lembramos dessa foto que está na abertura deste blog.
Não me recordo de todos os nomes, então prefiro não citar, mas estive no velório e sepultamento do Colovatti, no Cemitério de Camilópolis, em Utinga. Foi muita gente, muitos amigos e ex companheiros do Diário do Grande ABC de diversas épocas. Vou parar por aqui, meu comentário está ficando muito longo. Mas, são tantas lembranças... Volto em outra oportunidade.
Saudações –
Hildebrando Pafundi - escritor e jornalista.
Amigas e amigos: Passei no total 7 anos trabalhando no ABC, entre idas e vindas, e compartilhando redações com toda essa turma. Só nunca tive como vizinhos de mesa o Marqueiz e o Edward. Acho até curioso esse detalhe, fruto do acaso, porque o mercado ali foi sempre tão concentrado que era impossível alguém não se conhecer. O Pedrão Martinelli na foto está moleque. Só gostaria de salientar que quando ele começou a fotografar para a Play Boy, como diretor do estúdio Abril, já era famoso, por suas passagens pela Sucursal paulista de O Globo e revista Veja, onde fez grandes trabalhos. Esteve também no Xingu, ao lado do Marqueiz, e foi premiado por uma foto de um índio gigante. Só teve tempo de clicar, sem nenhum ajuste na máquina, e o índio sumiu na selva, certamente assustado com o equipamento. Ganhando uma bela grana, prestigiado, famoso na imprensa, Pedrão largou tudo, comprou um barco, onde morava, contratou um comandante, e ficou dois anos navegando pela Amazônia, produzindo seu magnífico álbum de fotos, que tenho autografado por ele, um maravilhoso amigo. O Fausto Polesi é outra figura humana especial, sensível. Está aí mais uma prova. No episódio da minha prisão política, com meu irmão Rubem Mauro, durante a ditadura, tentou nos ajudar, jamais esquecerei isso. Teve que me demitir da chefia da redação dentro de um contexto político, não foi pessoal. Foi até bom, porque fui contratado pela TV Globo, como chefe de reportagem. Compreendi e continuamos amigos do mesmo jeito. Devemos uma homenagem ao Fausto, sempre penso nisso.
ResponderExcluirAbraços!
Milton Saldanha
O Hildebrando Pafundi é outra pessoa muito querida por todos nós. Hoje escritor, com vários livros, um deles no cenário da dança de salão, que pratica. Estivemos juntos no Diário do Grande ABC e depois na Sucursal do ABC do Estadão. Ele precisa registrar suas memórias, que são ricas.
ResponderExcluirBeijos!
Milton Saldanha
O Colovatti foi um extraordinário fotógrafo, um dos maiores que conheci e com quem trabalhei. A beleza de suas fotos, mesmo de um simples buraco de rua, eram impressionantes. E quando gostava do tema, sai da frente, não tinha para ninguém. Convém lembrar que não existia essa facilidade digital, era tudo na mão e no olho humano, em preto e branco, a foto mais difícil.
ResponderExcluirMilton Saldanha
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEdward, eu já agradeci a você e a Ilca pelo livro que me enviaram escrito pelo José Marqueiz, "Villas Boas e os Índios". Olha, não é verdade o que a Taty disse, que eu lhe mostrei o livro de longe e escondi. Eu disse que iria ler primeiro e depois emprestaria a ela, foi isso. Gostei deste capítulo de hoje e da história da garrafa com água. O Marqueiz, pelo jeito, era muito divertido, fez a festa com esse caso. Acho tão bonita a presença dos amigos seus aqui no blog, todos lembrando alguma passagem, como o Flávio, Milton Saldanha, Hildebrando. Mostra que vcs eram unidos e amigos. Imperdível essa série!
ResponderExcluirBjos
Carol - Metodista - SBC
Olá Carol e Tatiana!
ResponderExcluirNo próximo capítulo vamos sortear mais dois livros do José Marqueiz. Claro, para quem não ganhou, apenas. Quanto ao livro-romance "Adeus ao Continente", que o professor pergunta para a Ilca, não sei informar onde encontrá-lo, só mesmo ela que, por certo, ainda irá dar esta resposta aqui no blog. E esta série não só está unindo amigos e amigas, mas causando surpresas agradáveis. O professor João Paulo me enviou algumas fotos do seu pai. Se for quem eu penso, que está na foto com o Pafundi, era meu amigo, pode isso?
Agora um recado ao amigo-irmão J. Morgado, que está em São Sebastião do Paraíso, em Minas, perto de Franca, onde hoje a noite ministra uma palestra. Já lhe enviei um e-mail e estou lhe aguardando em casa, para comer uma salada de chuchu e beber muita água (hehehehehehe). Brincadeirinha, até porque, um cardápio desses espanta qualquer um.
Recebi algumas reclamações que algumas leitoras e leitores não estavam conseguindo postar comentários. Parece-me que agora está normalizado o tráfego, sem problemas.
Um forte abraço a todos...
Edward de Souza
Boa tarde, amigos e amigas!
ResponderExcluirA sequência de Memória Terminal está cada vez mais envolvente. Marqueiz consegue sensibilizar a todos e nos fazer partícipes de sua história. Sinto como se o conhecesse e a seus amigos e imagino o que deve ter passado.
Quanto ao episódio da garrafinha d'água, é deplorável a maledicência das pessoas e o seu juízo precipitado. Julgam antes de ou sem saber os motivos...Bem típico de gente medíocre.
Quanto ao livro "Adeus ao Continente", também li uma resenha de Hildebrando Pafundi na internet, elogiando a novela de Marqueiz.
Às meninas felizardas que receberam o livro "Villas Boas e os Índios" faço uma proposta: Poderíamos construir uma corrente de leitura, através do Correio. Os interessados em lê-lo se manifestariam e seria montado um itinerário. O livro viajaria até que todos o lessem e o último o devolveria à sua legítima proprietária...Acham que a ideia é viável ou estou sonhando?
Um abraço a todos!
Sempre que venho ler os capítulos de José Marqueiz, fico impressionada com seu talento para escrever. E lutando contra uma doença destrutiva, que não perdoa. Mesmo assim, sempre atento a tudo que ocorria a sua volta, como escreveu hoje sobre os pacientes que chegavam ao hospital. Sakta de um assunto para outro como enorme facilidade e sem qye a gente perceba. Gosto tanto de ler o que ele escreve que acabo de ler duas vezes o capítulo de hoje. E a página, Nivia e Edward, está maravilhosa, parabéns!
ResponderExcluirBeijos a todos,
Andressa - Cásper Líbero - SP.
Só agora, depois de postar meu comentário é que li sua proposta, Nivia. Eu acho que é viável sim, basta um pouco de boa vontade de todas ou todos nós. Sua ideia tem minha aprovação.
ResponderExcluirBeijos,
Andressa
Eu acompanho com a maior emoção esta série. Concordo com a Nivia, tem pessoas que eu chamo de xeretas, porque se metem em tudo que não é da conta deles. Como o caso desta garrafinha com água. Que direito tinham eles de fazer um julgamento, se era água ou bebida alcoólica o que o jornalista carregava? O que eu achei engraçado e, creio, muitas amigas também, foi a forma como José Marqueiz relatou o caso, principalmente do imbecil de Belo Horizonte. Esse já chamou José Marqueiz de alcoólatra sem esperar resposta. Cada uma. Ou melhor, cada um....
ResponderExcluirNivia, essa sua proposta do livro circular para que todos possam ler pode até dar certo, mas não vai ser fácil. Uns demoram para ler e vão ser cobrados, outros, os que são os donos do livro, podem não querer emprestá-lo para evitar que o estraguem, enfim... Mas, não custa tentar, quem sabe!
Bj
Tânia Regina - Ribeirão Preto - SP.
Edward como sempre as memórias de nosso amigo Marqueiz sempre nos surpreendendo.Muito emocionante ele ter citado o Ricardo, outro grande batalhador. Obrigada por nos proporcionar tão lindas recordações.
ResponderExcluirTambém não perco um só destes capítulos, embora nem sempre deixe meu comentário. Um relato maravilhoso de quem aproveitou a vida e enfrentou com coragem a morte.
ResponderExcluirCindy - São Caetano
Oiê, amigos (as)
ResponderExcluirTive pouco contato com o Marqueiz, embora trabalhamos juntos no Diário. No final dos anos 80 ele foi para a Rádio Diário do Grande ABC, onde eu já estava há mais de 20 anos, depois que deixei o Diário. O Marqueiz não tinha muita afinidade com rádio, pois nunca enfrentou um microfone. Na Diário ele ocupava uma mesa, sempre a tarde, e escrevia matérias para o jornal. Nunca entendi, nem perguntei, o motivo que ele usava as dependências da rádio para elaborar metérias para o jornal.
Ao lado da rádio, em São Bernardo, havia, e ainda está lá, o boteco do Macalé ((nosso Edward conhece bem) e a cada meia hora o Marqueiz passava na minha sala e disparava - Lavrado, vamos tomar uma ? - por ter que apresentar o programa esportivo da rádio (às 18h) eu recusava, mas o Marqueiz ia se benzer no Macalé. Na Rádio Diário, Marqueiz era taciturno e fechado, talvez já sentindo os males que o levaram ao andar de cima. Sem dúvida um grande e competente jornalista e não foi sem motivo que ganhou o prêmio Esso de Jornalismo.
O artigo de hoje, postado pelo Edward, (uma das pessoas que mais conviveu com o Marqueiz), retrata um pouco o que Marqueiz passou que eu estou passando com minhas idas semanais aos hospitais. José Marqueiz foi, sem favor algum, uma das mais brilhantes penas da história do jornalismo do Grande ABC.
abraços
Oswaldo Lavrado - SBCampo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAssim que terminei de ler o capítulo desta quarta, o 16º escrito pelo jornalista José Marqueiz, que sigo religiosamente, e também os comentários postados, parei neste do Oswaldo Lavrado. Eu não sabia dos problemas de saúde enfrentados por ele e declarados em seu comentário, mas espero que sejam resolvidos e que o competente radialista e jornalista tenha muita saúde para continuar nos brindando com suas ótimas crônicas.
ResponderExcluirLembrei-me de um texto de Charles Chaplin, depois de concluir a leitura de hoje: "A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.
Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas(os), vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando... E termina tudo com um ótimo orgasmo!"
Não seria perfeito?
Bjos
Daniela - Rio de Janeiro
O homem é imortal segundo a filosofia espiritualista.
ResponderExcluirO homem torna-se imortal segundo a filosofia do cotidiano terreno, quando deixa algo para ser lembrado.
A impressão que eu tenho todas as vezes que leio esses fantásticos capítulos de “Memória terminal”, é que o Marqueiz continua vivo e deliciando das recordações terrenas.
O passado é uma alienação maldita de um doloroso aprendizado, em que só as boas recordações não são suficientes para amenizar a dor da perda.
Ah se eu tivesse outra chance! Eu faria tudo de novo, porem com mais racionalidade.
Não deixaria de beber, mas beberia como uma pessoa equilibrada.
Eu não deixaria de fumar. Fumaria algumas vezes só para descontrair. Garanto que não iria me viciar.
Eu amaria mais e com mais intensidade, porem sem magoar corações.
E a natureza então! Ah, essa eu nunca deixaria passar despercebida.
O valor da amizade sincera seria milhões de vezes multiplicados por milhões de vezes.
Padre Euvideo.
Boa noite Crianças.
ResponderExcluirTive uma reunião pedagógica,portanto cheguei em casa agora.
Esta série está cada dia mais emocionante,nesse capítulo o que mais me marcou foi o fato das pessoas "rotular" o Marqueiz,isso ocorre com a maioria das pessoas,que pena,deveriam dar uma atenção maior vinda de grande carinho,mas preferem mesmo é deixar a pessoa com a auto estima no chão,isso é uma atitude que me entristece muito quando presencio,afinal é tão mais saudável fazer um elogio,dar aquele abraço fraterno,procurar saber como tem passado,mas não,querem mesmo é dar um empurrãozinho para piorar um pouco mais aquele que se encontra mal.
Olá querida Nívia,louvável a sua idéia.
Beijosssssssssss.
Boa noite a todos!
ResponderExcluirBem que tentei, por volta das 12 horas, deixar meu comentário, mas foi impossível, nao conseguia, Não sei se o problema estava com minha banda larga, tadinha, ela não gosta de frio, ou com o blog, sob a tutela do Google. Engraçado, pensei a mesma coisa que o João Batista, cujos contos são super saborosos neste espaço. A solidariedade que José Marqueiz sempre teve dos amigos. A explicação, penso eu, João Batista, está exatamente nesta união que vc percebe sempre que são postados capítulos desta série. Os amigos continuam unidos e participando, relembrando os bons tempos em que juntos estiveram. Acima disso, talvez o principal, era a competência do jornalista, que carregava sobre os ombros um Prêmio Esso. Gosto muito de acompanhar essa série, está excelente!
Nivia, sua ideia sobre a corrente de leitura é interessante. É o caso deste livro cobiçado do José Marqueiz, "Villas Boas e os Indios". A Ilca fez o que pode, ofereceu dois livros, já sorteados, e o Edward anunciou outros dois para a próxima semana. Quatro apenas vão ter o privilégio de ler esse livro. Caso vingasse sua ideia, quem sabe todos os participantes poderiam ler e até comentar neste espaço. Se depender de mim, participo e apoio sua iniciativa.
Bjos a todos,
Gabriela - Cásper Líbero - SP.
Padre Euvideo e Daniela, adorei os dois comentários.
ResponderExcluirBjos
Gabriela
Boa noite a todos.
ResponderExcluirO cérebro, mantenedor da vida e organizador das atividades físicas, fica mais fortalecido quando algo em sua responsabilidade não vai bem. Às vezes ele se sente um pouco humilhado quando uma repartição do seu reduto não corresponde com as suas expectativas, e principalmente quando não tem capacidade de eliminar de vez com a maleficência orgânica indesejada. É nessa situação que ele fica mais introspectivo buscando na capacidade de criação, algo com mais eficácia e automaticamente ludibriando a situação como se nada estivesse acontecendo.
O câncer é a revolta do organismo, situação essa que sai do controle cerebral. O egoísmo do cérebro, vencido por essa dinâmica, faz com que as instituições sensoriais, responsáveis pela oxigenação molecular, ordenem para as vias transitórias a fecharem a comunicação com o tecido eletricamente comprometido com o resto da organização física. Essa medida drástica é simplesmente a maquiagem de uma instituição vencida pelo fracasso, querendo dizer que ainda tem o controle da situação.
A parte física lesionada é totalmente isolada e autossuficiente para dominar a reação em cadeia na qual se predispôs. Infelizmente, essa é a trajetória do câncer, segundo meu mestre Dr. Miguel arcanjo (professor de medicina e psiquiatria da USP).
Dr. Sebastião Honório – Psiquiatria.
Olá prof. João Paulo e todos os leitores do blog, vou ver o que consigo em relação aos livros já publicados. Á beira mar onde deve estar agora, ao lado dos cães, em sua escrivaninha, sinto o Marqueiz recompensado pelo interesse e carinho de todos e pelas amizades atemporais e eternas.
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